segunda-feira, 2 de março de 2015

Insucesso escolar

Em períodos anteriores, o insucesso escolar era reduzido, ou nem se ouvia mesmo falar de tal problema, pois, como o ensino não era obrigatório, era escassa a quantidade de crianças e jovens estudantes. Hoje, o insucesso escolar constitui um fenómeno complexo e abrangente cuja natureza e determinantes são de essência social.
Foi a passagem da Escola Elitista, cujo ensino era dirigido às classes sociais mais privilegiadas, para uma Escola de Massas, que promoveu a generalização do ensino para todos e consequentemente o aparecimento do insucesso escolar.
Contudo, este novo conceito de Escola, nem sempre contemplou a heterogeneidade e multiculturalidade dos alunos, e continuou a incutir aleatoriamente os conteúdos e a selecionar, desta forma, os alunos mais aptos e a excluir os que não fossem capazes de acompanhar as exigências dos programas.
O insucesso escolar é um fenómeno que ocorre no seio de uma instituição escolar e diz respeito às disfuncionalidades presentes no indivíduo, escola e sociedade, bem como o modo de interação entre eles. O conceito de insucesso também pode ser considerado relativo, pois é dependente do tipo de objetivos estipulados em cada instituição escolar.
A abordagem deste fenómeno não deve ser feita dissociada do fator escola e sociedade, mas sim tendo em consideração a convergência dos mesmos, na medida em que se influenciam mutuamente.
É possível distinguir o insucesso escolar sob o ponto de vista quantitativo e qualitativo. O insucesso escolar dentro dos limites estabelecidos e refletindo-se pelas taxas de reprovação e abandono escolar. O insucesso escolar qualitativo refere-se à desadequação dos conteúdos lecionados na escola com aspirações individuais do aluno, face às exigências impostas pela sociedade.
As manifestações do insucesso escolar são múltiplas, podendo ir desde o abandono da escola antes do fim do ensino obrigatório, passando pelas reprovações sucessivas que dão lugar a grandes desníveis entre a idade cronológica do aluno e o nível escolar, até à passagem dos alunos para tipos de ensino menos exigentes, como é o caso de cursos profissionais, que de certo modo os afaste do ingresso ao ensino superior. 
O conceito "insucesso escolar" acaba por surgir aquando da massificação do ensino e com ele apareceram também teorias explicativas de tal fenómeno. A partir daqui, surgem fatores que podem influenciar o sucesso/insucesso escolar. Um deles é a família. Dados estatísticos comprovam que alunos que vivem num clima cultural quotidiano são os que obtêm uma menor taxa de insucesso, isto porque se encontram sensibilizados aos estudos, sabendo que serão propícios ao seu êxito. Um caso particular é a riqueza do vocabulário que será refletida nos filhos, pois quando estes ouvem mencionar os objetos pelos nomes apropriados, contraem o hábito de proceder do mesmo modo, mas se o vocabulário familiar for pobre e limitado e usados termos inadequados, adotarão um modo aproximado e vago de falar.
Também a distância do local da escola e da residência dos alunos interfere no sucesso/insucesso dos mesmos. Os alunos que moram longe da escola são obrigados a fazer um esforço maior e acabam por ficar sem vontade para estudar. Aqueles que vivem em zonas degradadas estão propícios à aquisição de hábitos culturais e de estudo pouco relacionados com as exigências do sistema de ensino. As diferentes formas de satisfazer as necessidades básicas, nomeadamente, a alimentação racional, vestuário, habitação, o acesso diferenciado aos bens de cultura: livros, jornais, espetáculos, arte e a necessidade de aumentar a renda familiar, com mais um vencimento, levam a que muitos alunos abandonem o sistema escolar, devido também, à incapacidade de suportar custos dos livros, material escolar, transportes, roupa, etc.
A influência cultural da família também é um facto que ajuda a explicar, muitas das vezes, o insucesso escolar de um aluno. Por exemplo, no que toca à vigilância/controlo dos trabalhos escolares, o nível cultural de uma família é crucial, na medida em que pais, com um bom nível cultural, estão mais aptos para ajudar os filhos nesta tarefa, o que nem sempre acontece, devido às exigências profissionais dos mesmos, que lhes impossibilita de agir por falta de tempo, acabando por contribuir para o insucesso. Acontece que muitas vezes as famílias menos instruídas fazem esforços para se encontrarem em condições de auxiliar os filhos, recomeçando os estudos ao mesmo tempo que estes. Um outro fator é o clima afetivo. Nos dias de hoje, o desentendimento dos membros da família é cada vez mais frequente. Neste caso, é notória uma clara influência, na medida em que os resultados e a atenção dos alunos tendem a baixar. O supercontrolo no que toca aos resultados escolares acaba também por provocar de certa forma, o insucesso do aluno. Devido a tanta pressão sobre o mesmo, muitas vezes, ao invés dos resultados pretendidos, vê-se uma espécie de desespero em relação ao trabalho, acabando o aluno por se desmotivar.
Ao longo da história a organização escolar e de ensino tem vindo a evoluir. E esta evolução tem trazido mudanças no que respeita ao sucesso dos alunos. No entanto, é possível analisar alguns aspetos anómalos, em si, e que possivelmente contribuem para o insucesso escolar. Por exemplo: a má dimensão da rede escolar quanto ao número de alunos por estabelecimento de ensino, no que respeita ao número de alunos por turma e até mesmo às distâncias/tempo casa-escola que são significativas; a existência de grandes lacunas na gestão dos estabelecimentos de ensino quer devido a questões financeiras, curriculares, pedagógicas, gestão dos tempos, quer devido à falta de preparação específica dos elementos que desempenham essa função, causando muitas vezes um clima organizacional denso agravador de conflitos; a falta de recursos financeiros não permite, de igual forma, a resolução de alguns problemas: aquisição de material didático, equipamentos, espaços, contratação de pessoal auxiliar em número e com formação de base; a relação impessoal e formal professor-aluno.
O papel do professor também é um dos problemas que se deve ter em conta e um dos mais difíceis de analisar visto que os professores dificilmente se reconhecem culpados do insucesso. Em muitos dos casos eles têm a convicção que fazem tudo o que está ao seu alcance para garantir o êxito dos alunos. Frequentemente a culpa do insucesso é atribuída aos pais, à televisão, à internet, tudo menos aos professores. O papel do professor é preponderante.
O insucesso escolar do aluno está muitas vezes ligado ao desempenho das atividades profissionais do professor na medida em que este muitas vezes tem de lecionar fora da sua área de residência, em condições degradadas (sem apoios pedagógicos, com sobrecarga horária...), em condições desumanizadas (número elevado de turmas e alunos, falta de material didático e espaço), sem uma formação contínua ao nível da sua área curricular, entre muitos outros fatores. destacam-se um conjunto de situações anómalas como por exemplo, a falta de preparação para a docência, a não vinculação efetiva ao ensino e consequente desinteresse ou a não existência de qualquer dinâmica de investigação.
Em suma, existem inúmeras causas que proporcionam o insucesso escolar, como a família, o aluno, a escola, o sistema educativo, a sociedade, os currículos e os professores. A responsabilidade do insucesso escolar não deve ser imposta a uma só entidade. Existe um conjunto de fatores que, em simultâneo, compõe todo um cenário compatível com o surgimento desse insucesso. O papel da escola e do professor deve passar não só pelo lecionar conteúdos, mas também motivar e incutir aos alunos valores que lhes proporcionem bons resultados. Os professores de hoje têm pela frente um grande desafio: conduzir com sucesso os seus alunos rumo a um ótimo futuro, nunca pedindo o impossível sem esgotar todos os possíveis. 
 
Ana Carolina Ferreira Batista  Nº1

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