A Especificidade do Ser Humano
O ser humano quando nasce é prematuro e inacabado, ou seja, o seu desenvolvimento não está completo, daí sermos seres neoténicos. A neotenia designa o inacabamento biológico do ser humano ao nascer, o que implica que a infância seja tão longa, uma vez que o nosso desenvolvimento é lento e que o desenvolvimento do nosso cérebro se faz essencialmente ao longo da nossa vida (apesar de este continuar até à morte do individuo). O facto de sermos seres prematuros e biologicamente inacabados leva a que tenhamos um programa genético aberto, ou seja, não somos predeterminados, nem temos comportamentos orientados. É claro que temos uma programação básica de ordem biológica mas não estamos determinados por um sistema de instintos que defina o nosso desenvolvimento e o nosso comportamento. O nosso desenvolvimento faz-se tendo em conta as influências do meio. Por isso, temos um desenvolvimento epigenético.
A individuação também é uma característica do
nosso cérebro. Inicialmente pensava-se que o cérebro era igual em todos os
indivíduos, ou seja, julgava-se que o desenvolvimento do cérebro obedecia a um
padrão, a um modelo. A verdade é que os nossos cérebros são diferentes. Mas
qual a razão desta diferença? O cérebro humano apresenta diferenças porque os
seres humanos têm códigos genéticos diferentes, o que faz com que haja um
diferente desenvolvimento dos tecidos nervosos e porque cada uma de nós ao
longo da nossa vida, tem experiências, vivências diferentes. Desta forma, cada
pessoa desenvolve mais determinadas áreas cerebrais consoante as suas aptidões,
as suas experiências de vida, originando assim a diversidade da sociedade
devido à individuação de cada um. A lentificação também contribui para a
individuação, na medida em que sendo o nosso desenvolvimento cerebral lento,
estamos sujeitos às influências do meio durante mais tempo, diferenciando-nos
cada vez mais uns dos outros, ou seja, individualizando-nos. Mas como é que o
cérebro consegue assimilar tanta informação? Só o consegue fazer graças à
auto-organização cerebral que é permanente. O processo de auto-organização
consiste na multiplicação, e na eliminação das redes neuronais, ou seja, na
seleção das mesmas. Dá-se a multiplicação de redes neuronais quando há uma área
cerebral que se desenvolve mais, por exemplo, o caso de um violoncelista que
tem as áreas cerebrais que comanda os dedos, mais desenvolvida do que outras
pessoas. Quando se dá o inverso, ou seja, quando uma pessoa, por exemplo, deixa
de exercer uma determinada tarefa, a área cerebral responsável por essa tarefa
vai deixar de ser utilizada, sendo as ligações neuronais desnecessárias, logo
eliminadas. Faz-se, assim, uma seleção das redes neuronais: multiplicando as
necessárias e eliminando as desnecessárias. Por tudo isto, o cérebro humano tem a capacidade de apreende, e de se
adaptar a novas situações, distinguindo-se dos outros seres.
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