quarta-feira, 3 de junho de 2015

Reaproximação entre Cuba e os Estados Unidos


No dia 17 de Dezembro de 2014, os Estados Unidos da América (EUA) e Cuba tornaram públicas suas intenções de reaproximação diplomática. O anúncio deste começo de abertura de relações políticas entre os dois países veio acompanhado de negociações para a libertação do americano Alan Gross, em Cuba, bem como a libertação de três cubanos na Flórida (EUA), acusados de espionagem. Tanto o líder cubano, Raúl Castro, como o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, discursaram sobre o facto da libertação desses indivíduos e assinalaram a perspectiva de uma nova fase entre os dois países.
Este acontecimento tem uma relevância notória (e, por isso mesmo, tem sido bastante anunciado na imprensa internacional) exactamente por terem sido publicamente declaradas as intenções de reaproximação. Contudo, a história da relação entre Cuba e os EUA, desde os anos 1960 até agora, é marcada por várias contradições, tanto de um lado como de outro. As contradições começam logo com os investimentos revolucionários do grupo liderado por Fidel Castro, na década de 1950, contra o governo de Fulgêncio Baptista. Existe um longo debate historiográfico que analisa, nesse contexto, a participação dos EUA tanto no apoio às forças de Fulgêncio Baptista como a eventuais auxílios aos guerrilheiros.
Além disso, no contexto da Guerra Fria, a Revolução Cubana só representou, de facto, uma parte do comunismo na América Latina quando começou a estreitar relações com a União Soviética no início de 1960. Até 1959, quando os revolucionários ocuparam Havana e elegeram Manuel Urrutia Lléo como presidente — um advogado com tendências ideológicas liberais — os rumos de uma “Cuba comunista” e de uma “luta contra o imperialismo Ianque” ainda não tinham sido plenamente traçados. Essa perspectiva só se definiu quando os irmãos Castro assumiram de fato o controle da ilha, tanto político como económico e militarmente, optando pelo apoio ao bloco soviético.
Essa opção de Cuba implicava, naturalmente, expulsar a estrutura económica americana que existia na ilha há décadas. As “plantations” e os investimentos americanos em Cuba foram desapropriados ou expropriados pelo Estado comandado pelos Castro. A institucionalização de uma burocracia gerenciadora do país, estatizante e profundamente dependente da URSS, valendo-se da retórica revolucionária socialista, provocou a reacção do bloco ocidental, sobretudo dos EUA, que, a partir de 1961, romperam relações diplomáticas com Cuba após o episódio da invasão da Baía dos Porcos.
O momento mais crítico e tenso da Guerra Fria no que se refere à relação EUA-Cuba foi o da Crise dos Mísseis.
Com a queda do bloco soviético em 1989 e as reformas estruturais na Rússia e nos outros países, as relações entre Estados Unidos e Cuba passaram a ocupar outro rumo. Cuba foi submetida à pressão de obstáculos económicos na forma de duas leis principais: A Lei Torricelli, de 1992, e a Lei Helms-Burton, de 1996. Essas leis dificultavam a articulação económica de empresas que tinham ou queriam estabelecer negócios em Cuba, já que esse país não contava mais com o auxílio soviético. Além disso, há ainda a posição dos emigrantes cubanos que vivem nos EUA. Essa comunidade cubano-americana possui opiniões bastante diferentes em relação aos impedimentos. Enquanto uns apoiam o seu fim, outros defendem a sua manutenção como forma de pressão para a ruína do regime instalado pelos Castro.
A partir de 2000, houve uma maior flexibilidade em relação às parcerias económicas entre Cuba e outros países, incluindo o Brasil e os EUA. Recentemente, o financiamento do Porto de Mariel em Cuba pelo governo brasileiro repercutiu enormemente, sobretudo com acusações em torno da obscuridade na prestação de contas de tal empreendimento. Mas o facto é que Cuba tem procurado manter-se “de pé” politicamente, segurando a moldura de um regime autoritário, ao mesmo tempo em que se articula economicamente como pode e com quem pode. A renúncia de Fidel Castro trouxe mais uma reviravolta a este cenário, e o seu irmão, que sempre foi considerado mais radical e mais ligado ao núcleo duro das Forças Armadas cubanas, tem demostrado, contraditoriamente, essa perspectiva de abertura. Essa postura talvez seja influenciada por uma articulação política que leva em conta a idade avançada tanto de Fidel como do próprio Raúl Castro e dos outros membros da elite dirigente de Cuba. O regime precisará de ser reformado nos próximos anos; e ao que tudo indica, Raúl Castro deve estar a preparar uma nova elite para isso.

Para além disso, é preciso ficar atento à situação actual de Cuba, às principais reivindicações da população cubana, aos motivos de haver tanta evasão do país e ao interesse que a comunidade económica internacional, incluindo o Brasil, tem na ilha.


O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, cumprimenta o presidente cubano, Raúl Castro.










                                                                       Jéssica Oliveira, nº13

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